segunda-feira, abril 06, 2009

Repudio ao oportunismo politico da Vegan Staff (e críticas ao movimento vegano como um todo)



Não é de agora que muitos movimentos vegetarianos vem empreendendo uma verdadeira ‘caça às bruxas’ às mulheres. Ainda é objeto de estudo e intriga a prevalecente misoginia e perseguição dos temas de suas intervenções e eleições retóricas. Algumas organizações já conhecidas e denunciadas são o PETA, que como bem expressou a ativista norte-americana Nikki Craft, uma das pioneiras na denúncia, ‘Apenas mulheres são tratadas como carne’. Na organização referida, mulheres são bem vindas contanto que tirem a roupa para promover a sigla que fatura bilhões com a causa apelativa dos bichinhos. Mulheres também são publicizadas em suas campanhas sendo espancadas portando casacos de pele. O cenário que mostram dá a entender que mulheres e sua ‘odiosa futilidade natural’ são o sustentáculo maior da opressão sobre animais nos planetas. Claro que a indústria da moda e do couro são esquecidas nessas horas: seria demais pôr o Capitalismo mundial e sua verdadeira chefia (Patriarcado e classe de homens em suas formas atuais) abaixo: são preteríveis as causas mais distrativas e populares – como o ódio a mulher, que tanto solidariza pessoas ao redor do mundo.

Não bastando, no Brasil, no último 8 de março em São Paulo, junto aos partidos políticos, homens veganos invadem a manifestação de mulheres distribuindo panfletos de causa animal, sendo esta data uma das únicas onde mulheres podem ter alguma visibilidade para suas próprias causas.


(PETA ESPANCANDO MULHERES)


Caça às bruxas

Num dos panfletos distribuídos, intitulado ‘Libertação: de gênero e de espécie’A Vegan Staff diz basicamente que todas as mulheres não-vegetarianas ou vegans são comodistas, incoerentes, negligentes, limitadas e hipócritas (‘Muitas militantes feministas negligenciam a causa da libertação animal não humana, seja por comodismo, incoerência ideológica, ou ignorância. E erroneamente, insistem em consumir ingredientes de origem animal, assim como a sustentar empresas que fazem testes em animais’). A organização que até esta data não se comprometeu com nenhum trabalho feminista sério acusa feministas, questiona credibilidade da sua causa e impõe a mulheres, especialmente grupos sem poder como feministas e negras, seu recorte político amesquinhado, exigindo adoção de um paradigma pobre e masculino e ao mesmo regulando condutas de mulheres, exigindo 'coerência'.

Já sabemos como movimento feminista sofre perseguição é segue sendo queimado nas fogueiras inquisitoriais até hoje.

Ao invés de oferecerem subsídios úteis para a compreensão e combate ao paradigma masculino, o representam e o protegem quando dizem a mulheres o que devem ou não fazer, valendo-se de tom autoritário e coercitivo tipicamente supremacistas masculinos (“ou continuarão hipócritas,” “Portanto, torne-se vegetariana, negue...ou...”). De um lugar muito favorável e confortável (privilégio masculino e não sofrer os prejuízos da opressão no acesso a recursos de compreensão, voz, reconhecimento de liderança e idiossincrasias próprias) exercem-se como juízes das mulheres, avaliando negativamente movimento de mulheres, condenando e pressionado, exigindo posturas que lhes convenham, coisas que Patriarcado há séculos tradicionalmente faz.

Destituídos de contexto histórico e social culpabilizam mulheres acusando-as de “sustentar” empresas especistas com suas “insistências errôneas”, quando é o trabalho explorado de mulheres trabalhadoras que sustenta tais empresas. Clamam por um consenso sobre o que fazer com animais, quando não há sequer um nesta sociedade de que mulheres são seres humanos.

Apropriam-se de forma hipócrita de discursos e produções teóricas feministas para manipular mulheres a seus próprios propósitos, uma violência típica (opressor não pode falar por oprimido) quando sabemos que a organização e os movimentos veganos em geral compõem-se de uma maioria masculina (ou ao menos, sua direção inquestionavelmente o é).

Instrumentalizar saberes feministas é um ataque a autonomia das mulheres, constitui-se em um roubo da fala e espaço que segue nos silenciando. Homens não podem falar pela nossa experiência. Eles não a vivem, não estão autorizados. Conseqüentemente, soa ditatorial e inquisitório, senão subestimador (algo como ‘elas não podem levar sua luta por si próprias, precisam ser ensinadas, o que é feminismo e ser coerente politicamente’).

Diz o que devemos fazer ou não (‘...não há como feministas contra-argumentarem ou negligenciarem a libertação animal’).

Subtendende-se pelo tom disciplinário de suas advogações uma misoginia implícita que intenta corrigir mulheres que, ‘desobedientemente’, comem carne ou derivados.

Naturalizam o Patriarcado, esbarrando sempre em posturas essencialistas, dicotomizando e reificando naturezas ‘homem’ e ‘mulher’, reproduzindo dualismos classicamente misóginos onde o patriarcado representa o pólo agressivo e racional e o Matriarcado pacifista e dócil, preparadas para receber ordens e abdicar de suas subjetividades por uma causa comum (‘regime matriarcal era comunitário’, natureza feminina é solidária). Infere-se aí quase um ‘manual de boa conduta’ do que seria representar uma mulher/feminilidade ideal (agora, reformada e politizada, requerindo a esposa perfeita do homem esclarescido e justiceiro vegano). Mulheres devem ser boas, solidárias e sempre de pernas abertas a suas causas. A punição, ameaçam, é o vexame público. ('ou continuarão hipócritas').

O veganismo não vai libertar as mulheres.



O feminismo não deve nada a ninguém, exceto seu sujeito político, as mulheres, jamais contemplado na História escrita pelos grandes machos. Não necessita de leitura anti-especista ou mesmo anti-capital para ser legitimado e sequer as diversas condições das mulheres pelo mundo averiguadas para serem levada a sério e ter espaço para sua voz, para que o que nos tenham a dizer seja importante e significativo por si só.

Vegan Staff, homens anarquistas, homens libertários, homens pró-feministas e maridos esquerdistas, homens em geral: Vocês não podem falar pelo homossexuais, negros e mulheres. E pelo visto nem pelos animais.

O sujeito do feminismo são as mulheres e somente estas podem elaborar e que termos levar suas lutas de forma individual e coletiva, suas necessidades imperativas e como sentem questões de opressão, inclusive dentro de movimentos comunitários, políticos e sociais e então, dentro do movimento dos direitos animais em que garotas estejam, reféns de um histórico e maioria notadamente masculinista e heterosexual, quando estes últimos mesmos não atuam em conjunto com as facínoras ideologias e instituições sociais pró-vidas que seguem matando mulheres ao dificultar sua luta por direitos sexuais e reprodutivos, acesso a aborto legal, público e gratuito.

Não demande que levemos sua alienação classe-média-branca-higienista-conservadora-moralizante a sério.

Somente nós poderemos elaborar os termos de nossa própria Libertação e Humanização.

Somente nós poderemos considerar quão veganismo ajudará neste processo, quando a divisão de alimentos no planeta tradicionalmente privilegia homens (fazendo com que em muitos países, vegetarianismo seja justamente compulsório à mulheres já que carne é privilégio econômico e simbolicamente instituído como masculino, mais ou menos como por aqui onde garotas morrem por anorexia e regimes alimentares que patriarcalmente instituídos visam debilitar saúde da mulher que, independente de constarem carne ou não, seguem nas matando, principalmente às pobres e negras).

Abaixo o constrangimento oral de mulheres por homens


Sim ao vegetarianismo considerado em nossos próprios termos. Sim a educação alimentar não misógina que fortaleça mulheres a continuarem suas lutas e disporem de qualidade de vida , que depende não somente de boa alimentação e acesso a meios de saúde e contracepção, mas também na extinção da heterosexualidade compulsória, pornografia e outros regimes masculinos de risco que tornam sua vida um estado constante de medo, estresse e comedimento.

Sim ao estudo mais sério do vegetarianismo e sua conveniência à causa das mulheres.

Sim à ciência das mulheres.

Não a tradicional disposição de nossos ouvidos, corpos e vontades aos homens detentores
da verdade.

Mulheres, antes de qualquer coisa: acreditem em vocês mesmas.





- membros do Ovulando Revolução e redatores do blog feminismo e vegetarianismo, 27 de março de 2009.

* Não aceitamos pseudo-réplicas em forma de perseguição pessoal a membros do coletivo. Se quiserem redigi-la, organizem em forma de texto e publiquem em seu próprio site ou envie para o email ovulandorevolucao@gmail.com.


'Peta não me representa':
http://www.orkut.com.br/Main#Community.aspx?cmm=39799067